Estévia, posso utilizar sem preocupações?


A busca por alternativas saudáveis ao açúcar levou ao aumento da popularidade da estévia, um adoçante natural derivado da planta Stevia rebaudiana. Mas alguns alertas foram disparados a partir de 2023 em relação a sua segurança e uso a longo prazo. Afinal, é seguro usar adoçantes à base de estévia?

De forma geral, o uso da estévia é seguro e é recomendado na substituição do açúcar para quem não consegue diminuir o consumo do açúcar. O Criasaude consultou as pesquisas científicas mais recentes e entrevistou a nutricionista clínica Milena Fernandes (CRN-370152-P), que é pós-graduada em Fitoterapia e Mestranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP, para exploramos os benefícios, segurança e contraindicações do uso da estévia, além de discutir as preocupações levantadas por organizações de saúde sobre os adoçantes não calóricos.

O que é a estévia?

A estévia, também conhecida como estévia, é uma planta originária da América do Sul cujas folhas são utilizadas pela indústria alimentícia para fabricar um adoçante natural zero caloria. Esse adoçante é obtido através da extração e purificação de glicosídeos de esteviol, que possui um poder adoçante cerca de 300 a 500 vezes maior que o açúcar, dependendo da sua pureza.

Antes de ser utilizada pela indústria, as folhas da estévia eram consumidas há centenas de anos por povos originários da América do Sul, tanto como adoçante quanto para fins medicinais.


Benefícios do uso da estévia

A estévia têm sido amplamente estudada em sua forma de adoçante (glicosídeos de esteviol isoldados), embora ainda sejam necessários estudos maiores em seres humanos, esses estudos apontam os seguintes benefícios à saúde:

- Perda de peso. Quando utilizada a curto prazo na substituição do açúcar, a estévia pode contribuir para a perda de peso, segundo especialistas da Harvard Chan School.

- Aceitação pelo cérebro. Um estudo com camundongos mostrou que dentre os adoçantes à base de plantas, a estévia é o adoçante mais aceitável pelo cérebro.

- Antidiabético, não só pelo consumo menor de açúcar, mas traria aumento da insulina; anti-hipertensivo, anti-inflamatório, antioxidante, anticâncer e antidiarreico, segundo revisão científica publicada em janeiro de 2023 na revista Molecules.

Atenção, é recomendável que o uso da estévia seja feito sob orientação de profissionais de saúde habilitados, como médicos e nutricionistas.

Mas é seguro utilizar a estévia?

De modo geral, o consumo da estévia é seguro quando respeitada a dose diária aceitável (DDA) de 4 mg por kg de peso corporal por dia. Esta dose é aprovada por agências reguladoras de saúde, como a OMS, EFSA, FDA e ANVISA.

No entanto, preocupações surgiram após a publicação de recomendações da OMS em 2023, onde recomendavam que adoçantes não calóricos, como estévia, não deveriam ser utilizados, pois não apresentam benefícios a longo prazo na redução da gordura corporal e podem ter efeitos não desejáveis que ainda precisam ser melhor investigados. Especialistas da Harvard Chan School, concordam com a recomendação da diminuição do uso de adoçantes, no entanto criticaram a exclusão de grandes estudos de coorte que mostram efeitos positivos dos adoçantes na perda de peso e saúde cardiovascular, na avaliação da OMS.

“Qualquer substância ‘sem calorias’ auxilia na redução calórica em comparação ao açúcar”, no entanto o que é mais recomendado na nutrição hoje em dia é manter uma alimentação saudável, dando preferência aos alimentos in natura ou minimamente processados e livre de aditivos químicos, explica a nutricionista Milena Fernandes.

Riscos e efeitos adversos

Quando consumida dentro da DDA, a estévia não apresenta riscos significativos à saúde. No entanto, doses elevadas podem causar desconfortos gastrointestinais, como inchaço, náuseas e diarreia.

Reações alérgicas são raras, mas possíveis.

Uma revisão de 2022 sobre a estévia e a saúde intestinal apresentou resultados variados, com alguns estudos sugerindo que a estévia pode apoiar um microbioma intestinal saudável, enquanto outros indicam que pode causar desequilíbrios.Um estudo de 2024 concluiu que a estévia provavelmente não prejudica a saúde intestinal em um período de 12 semanas, mas ainda pode causar efeitos colaterais como náusea e inchaço.

Contraindicações

Apesar da segurança geral da estévia, alguns grupos devem evitar seu uso ou consumi-la apenas sob orientação médica, alerta a nutricionista Fernandes:

- Pessoas com reações alérgicas a plantas da mesma família (Asteraceae), que inclui ambrósia, crisântemo, calêndula e margarida.

- Indivíduos com pressão arterial baixa ou que tomam medicamentos para controlar a pressão arterial. Que devem utilizar a estévia com cautela por poder causar uma queda adicional na pressão.

- Pessoas diabéticas que fazem uso de medicação. Nesses casos é preciso monitorar os níveis de açúcar no sangue cuidadosamente, pois a combinação pode causar hipoglicemia (baixos níveis de açúcar no sangue).

O uso moderado durante a gestação pode ser recomendado, mas sempre com acompanhamento de profissional de saúde habilitado. Apesar das pesquisas em humanos serem limitadas, evidências de estudos e dados populacionais sugerem que a estévia é provavelmente segura para consumo durante a gravidez quando utilizada DDA, complementa Milena.

In natura stevia Adoçantes comerciais

Existem diferenças significativas entre utilizar a planta de stevia in natura ou na forma dos adoçantes comerciais que contêm glicosídeos de esteviol isolados. Essas diferenças estão relacionadas à composição, sabor, potência adoçante e potencial impacto na saúde, explica a nutricionista Milena Fernandes:

  Planta in Natura Adoçantes Comerciais de Glicosídeos de Esteviol  
Composição Contém uma variedade de compostos além dos glicosídeos de esteviol, incluindofibras, vitaminas, minerais e outros fitoquímicos. Contêm altos níveis de um ou dois glicosídeos de esteviol (como rebaudiosídeo A ou esteviosídeo) purificados.  
Sabor Pode ter um sabor amargo e inconsistente devido à presença de diversos compostos. Melhorado e mais suave, com menos amargor. Alguns produtos comerciais combinam glicosídeos de esteviol com outros adoçantes para melhorar o sabor e a textura.  
Potência adoçante Menos potente.

É necessário usar uma quantidade maior para obter o mesmo nível de doçura de adoçantes purificados
Muito mais potente.

300 a 500 vezes mais doce que o açúcar, dependendo da formulação. Necessitando de menores quantidades, em relação a planta in natura ou açúcar, para adoçar.
Impactos na saúde   A presença de outros compostos na planta pode ter efeitos benéficos adicionais, mas também pode introduzir incertezas nos efeitos sobre a saúde. Consumir a planta in natura pode ser menos eficiente e menos prático para controle de dosagem em  comparação com os extratos purificados. Os glicosídeos de esteviol isolados foram extensivamente estudados e são considerados seguros para consumo pela FDA, EFSA e OMS, com uma dose diária aceitável bem definida. A pureza e a potência permitem um controle preciso da ingestão, importante para pessoas com diabetes ou outras condições de saúde.

Conclusão

Embora a estévia seja uma excelente alternativa ao açúcar, seu uso deve ser moderado e acompanhado por profissionais de saúde, especialmente em casos de condições médicas específicas.

Fontes & Referências
- Entrevista realizada pelo Criasaude em julho de 2024 com a nutricionista clínica Milena Fernandes (CRN-370152-P), que é pós graduada em Fitoterapia e Mestranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP.
- Guia publicado pela OMS em junho de de 2023: Use of non-sugar sweeteners WHO guideline, acessado pelo Criasaude em julho de 2024, link funcionando nesta data.
- Artigo da Cleveland Clinic, publicado em 28 de junho de 2024: Stevia Is Sweet - But Is It Good for You?, acessado pelo Criasaude em julho de 2024, link funcionando nesta data.

Redação
Adriana Sumi (farmacêutica)

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